quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

MESTRE ADOLFO, O ILUMINADO.




Entre as rochas altaneiras que desenham a paisagem áspera de Quixadá, nasceu, produziu e baixou ao seio da terra, um homem de inteligência ímpar. Não diríamos um gênio para não vulgarizar o elogio merecido ao que fez neste mundo Adolfo Lopes da Costa, que, tal como Aderaldo, perdeu o sentido de visão ainda muito jovem. O infortúnio não o atirou na desesperança, nem ao "muro de lamentações" dos vencidos. Pelo contrário. Parece que, perdida a luz dos olhos, robusteceu a sua capacidade intelectiva, produzindo nesse período de cegueira, desdobrado entre 1932 e 1997 quando faleceu, obra extraordinária em diferenciados campos da atividade humana.
Adolfo – ou mestre Adolfo – pontificou por mais de meio século em Quixadá, destacando-se como um mecânico para o qual os motores não tinham segredos, também como músico, radialista, artesão de fantástica habilidade e imaginosos desejos de criar.
Sobre Adolfo Lopes, que Quixadá e grande parte do Ceará tão bem conheceram, fala de ciência própria seu conterrâneo e amigo, Marcelino Queiroz, sem esconder o entusiasmo por tudo que ele realizou naquela cidade cearense:

"Em nossa comunidade, entre tantos homens de valor pessoal, um merece de fato capítulo especial, por sua dignidade, sua valentia diante da desdita que o atingiu em plena juventude, dono de uma capacidade de luta invulgar. Refiro-me a Adolfo Lopes da Costa, que morreu no dia 18 de junho de 1997. De origem humilde, cedo partiu para Fortaleza, onde não pôde desenvolver grandes estudos face à necessidade de prover o sustento e ajudar os pais. Nele despertou precocemente a tendência para a mecânica, procurando engajar-se nas poucas oficinas existentes naquelas primeiras décadas do século anterior. Seu talento nato logo despertou o interesse de quem dele se aproximava. No empenho de conseguir algo melhor, aceitou submeter-se a um estágio nas oficinas da antiga Rede de Viação Cearense, dedicando-se de corpo e alma ao aprendizado. De tal modo que não tardou a ser admitido como funcionário, ganhando a bagatela (sic) de 12 mil réis por mês. Mas aquela passagem pela RVC foi decisiva para ele, porquanto travou conhecimento com o que havia de mais avançado em termos de máquinas a vapor.


Desestimulado pelos parcos salários, decidiu, num rasgo de coragem, enfrentar a vida por conta própria, não obstante a precariedade das condições de trabalho na cidade acanhada daqueles tempos remotos. Poucas eram as máquinas para cuidar em Fortaleza".

A VOLTA A QUIXADÁ

Seu renome de bom mecânico chegou aos ouvidos do então vigário de Quixadá, D. Lucas Reuzer, que precisava de alguém para cuidar do seu automóvel, o único da cidade dos monólitos naquela época. Corria o ano de 1926, quando Adolfo voltou à terra natal. Mas, consertado o carro, o Vigário revelou não ter condições de contratá-lo como motorista e mecânico efetivo. Em outras palavras, estava desempregado e tinha que começar a luta. Optou por permanecer em Quixadá. E por sugestão de D. Lucas, instalou uma pequena oficina mecânica, para o que contou com a ajuda de alguns amigos. Ali teria, como teve, todas as oportunidades para demonstrar a exuberante força do seu talento."

O GOLPE DO DESTINO



Trabalhando, tendo sempre serviços para assegurar-lhe a subsistência, Adolfo considerou que chegara a hora de assumir a responsabilidade do casamento. Encontrou na jovem quixadaense Luiza o amor e a companhia para todo o restante da sua existência.
Dois anos apenas depois de casado, eis que um golpe do destino vem para feri-lo. Uma grave moléstia passou lentamente a consumir-lhe a visão. Como um mecânico, lidando com motores complicados, iria se comportar com a perda parcial da vista? Buscou o auxílio da Medicina, de todos os recursos disponíveis então, mas a doença avançava inapelavelmente. Nada foi possível para evitar a fatalidade. Em 1932, estava completamente cego, o que poderia parecer um entrave intransponível à sua atividade profissional.
Dias cruéis, naquele ano marcado por uma das mais sérias secas do Ceará. Cego, as oficinas vazias de fregueses, um homem qualquer seria dominado pelo pânico, pelo desespero. Não Adolfo Lopes da Costa, que não era um homem comum, tinha dentro de si tantos e tão fortes engenhos, que não seria a carência de um dos sentidos que o faria sucumbir. E Adolfo pôde mostrar, na noite escura que se apossou dele, todo a imponderável condição que o ser humano guarda em seu âmago para superar os piores reveses.

retirado do site: www.sac.org.br

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