domingo, 12 de abril de 2009

opinião

´De tudo que é nego torto, do mangue e do cais do porto, ela já foi namorada. O seu corpo é dos errantes dos cegos, dos retirantes… É de quem não tem mais nada…” Mestre Chico Buarque, em seu clássico Geni e o Zeppelin de 1977, mal sabia que iria servir de base para eu, em 2009, desenvolver o meu desabafo em relação à meretriz da música eletrônica: A House Music.
Não vou focar em saudosismos, história da house music ou influências. Isso todo mundo tem acesso fácil na Internet e fica fácil conhecer todas as suas vertentes, nomes, sobrenomes e estilos. A ideia é desenvolver uma opinião acerca do que faz esse estilo da música eletrônica (não encontrei outro termo melhor…) servir de base para tanta gente realizar experimentos ao longo dos anos, desde quando era uma mocinha nos primórdios dos anos 80.

Outro dia mesmo estava indo para uma festa na Lapa aqui no Rio de Janeiro quando o motorista de táxi, irritado com a bagunça e o trânsito, desabafou comigo:

“- É, meu jovem… tenho saudades do tempo em que isso aqui era dos malandros, do samba moleque e da verdadeira boemia. Hoje, só tem espaço para a música mecânica…”

Opa… música mecânica? Hmmm… acho que me lembro de ter escutado esse termo em algum momento da minha vida musical, talvez quando estava comprando fitas Basf Chrome 90. Mas o fato é que, ao observar o que estava tocando, era ela… a maldita House Music, em sua fase talvez mais electropobrecida, maltratada com samplers repetitivos, pouco vocal e muito barulho, sendo totalmente contaminada pela onda moderninha que invade a minha, a sua vida: seja na música, no seu trabalho ou na cozinha: a influência desenfreada da tecnologia que por muitas vezes não preza qualidade, e sim pelo que deve ser consumido, pelo que se diz ser hype.

Mas voltemos pra mecanicidade da música: ah, já sei! Ela lembra um bate-estaca de obra, uma britadeira que irrita logo de manhã cedo e deixa o buraco aberto após a obra por meses a fio… é algo repetitivo, enjoado e sem criatividade. Por isso mesmo, temos que sempre colocar elementos em sua base para que se torne algo criativo, renovado ao longo dos anos. Difícil esquecer quando um dia ela viajou pra Bahia, cansada de Chicago onde nasceu, e se rendeu à lambada como uma filha perdida no mundo em busca de aventuras e de si mesma.

Após o seu fracasso na terra do axé continuou de galho em galho, de deck em deck, tape deck em tape deck, mas recentemente de ipod em ipod, tentando encontrar quem poderia lhe dar um caminho definitivo. Foi parar em tribos africanas batendo tambores, tentou ser o que não era se envolvendo com a pesada technologia dos clubs e hoje em dia, apesar de alguns bons momentos, está perdida, desfocada e passa na mão de quem lhe oferece qualquer centavo extra. Vem que eu to facinha…

A House Music atual sofre, assim como sofreu nos anos 90 com a “dance music” pobre de conteúdo, e sonha com dias melhores. Dividiu-se em tantos segmentos que atualmente não sabe quem é. Luta para que aqueles que a representam, os DJs, livrem-se de modismos, dinheiro fácil e a ajudem para que definitivamente encontre o seu caminho, tão simples mas desvirtuado diante do mau uso do livre arbítrio dos falsos produtores que se dizem artistas, mas resumem-se apenas em repetidores de hits consagrados.

Creio que seu futuro, assim como o de quase todos os gênios da música mundial, é negro. Negro não como a sua origem dentro da belíssima black music, mas sim na surdez dos que acham que ela nasceu do nada ou pode ser definida pelo que se escuta no mainstream e nos clubs da moda.

Não há nada bom de vez em quando? Claro que sim! Entretanto, costuma fazer coisas bacanas longe de quem a verdadeiramente ama, talvez envergonhada pelo seu passado trágico e de onde teve que ir para ser valorizada. Seus verdadeiros amores, a sua família que sabe como ninguém que a sua formação é simples, porém não menos complexa, perde um pouco da esperança a cada dia que passa, a cada moda que vem, que a usa e depois joga no lixo. Ficamos tristes, cabisbaixos e quase perdemos a esperança.

Mas, de repente, como na canção de Chico Buarque… ela de fato, tão coitada e tão singela, cativa quem a ama, um ser guerreiro tão vistoso, tão temido e poderoso e que a tanto critica é dela, prisioneiro. E é por isso que, apesar de seus desvios, de seus modismos débeis e de seus muitos momentos “joga pedra na Geni
, ela é feita pra apanhar ela é boa de cuspir…”, é que tem em sua essência a idéia que a acompanhará para sempre, independente dos aproveitadores canalhas que usam a sua levada contagiante a favor da mesquinharia: HOUSE MUSIC WILL NEVER DIE!
por: http://www.myspace.com/_djma

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